Diversidade das tangerinas: solução promissora para consumidores e citricultores

Imagem de gomos de tangerinas

Pesquisadores encontraram na diversidade das tangerinas plantas tolerantes à doença e essa pode ser uma solução para recuperar produção desse fruto

Não é só impressão, a tangerina está mais cara. No entanto, os resultados de uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), coordenada pela pesquisadora Dra. Marinês Bastianel do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, apresentam soluções que podem aumentar a produção desse fruto, reduzindo os gastos com agrotóxicos e, consequentemente, baixando o preço da tangerina no mercado.

O preço das tangerinas está mais alto

Segundo dados do IBGE, a tangerina foi o item que mais aumentou no índice de inflação do Brasil, abrangendo o período de junho de 2022 a 2023, com um expressivo acréscimo de 52,5% em seu preço.

Essa alta de preços está diretamente relacionada à diminuição na produção de tangerinas no Brasil ao longo dos anos. Por exemplo, em 2005, a produção era de mais de 1.230,0 toneladas em 61,0 mil hectares (ha); contudo, em 2020, houve uma redução de 10% na área (55,5 mil ha) e 16% no volume produzido (1,03 mil toneladas).

O principal motivo para essa redução é o aumento dos custos de produção decorrente dos problemas com doenças e pragas que afetam as plantas de tangerina cultivadas no país. Além disso, a falta de soluções eficazes para esses problemas tem levado os produtores a substituir o cultivo de tangerina por outras culturas, resultando em uma diminuição cada vez maior da disponibilidade de tangerinas no campo e nos mercados.

Não existe solução sem pesquisa

Publicado em abril de 2023, o trabalho liderado pela Dra. Marinês Bastianel mostrou que existe luz no fim do túnel.

Contextualizando: Os produtores de tangerina têm sofrido a anos com dois grandes problemas, a mancha marrom (doença causada pelo fungo Alternaria alternata) e o HLB/greening (doença causada pela bactéria Candidatus Liberibacter spp.). As tangerinas que nós consumidores mais gostamos, são afetadas por essas doenças e os prejuízos têm sido enormes, o que desmotiva a manutenção dos pomares pelos agricultores.

Existem tangerinas resistentes a essas doenças?

Essa foi a pergunta que os pesquisadores do Centro de Citricultura Sylvio Moreira e Embrapa Mandioca e Fruticultura fizeram. A resposta eles foram buscar na fonte, a maior diversidade genética de citros do País e do mundo – o Banco Ativo de Germoplasma (BAG).

Com o objetivo de identificar plantas resistentes à mancha marrom e ao HLB, os pesquisadores selecionaram diretamente do BAG, 69 plantas de tangerinas e 109 híbridos de tangerina (plantas de tangerina cruzadas com alguma outra espécie de citros, mas que possuem características de tangerina).

foto pesquisadora Marinês Bastianel - coordenadora do projeto com tangerinas

“A composição do experimento foi resultado de uma seleção criteriosa das variedades, embasada em estudos anteriores e apenas os acessos mais promissores foram escolhidos. O que representou menos de 30% do vasto acervo do nosso BAG.” Dra. Marinês Bastianel – Pesquisadora Centro de Citricultura Sylvio Moreira.

Em seguida, foram preparadas mudas das 178 plantas selecionadas, sendo, no mínimo, oito mudas de cada planta. O experimento foi montado em fevereiro de 2015, em um pomar que era afetado pelas duas doenças, e as avaliações ocorreram durante três anos.

foto pesquisadora Marinês Bastianel

Na ciência, os experimentos precisam ser feitos com repetições e réplicas. Esse cuidado é necessário para confirmar que o resultado observado é verdadeiro e não apenas uma casualidade.” Dra. Marinês Bastianel – Pesquisadora Centro de Citricultura Sylvio Moreira.

Durante o experimento, os pesquisadores observaram diferenças significativas na severidade das duas doenças. De fato, encontraram plantas que eram completamente resistentes ao fungo causador da mancha marrom, ou seja, essas plantas não ficavam doentes mesmo na presença do fungo. Também identificaram que algumas variedades de tangerinas e híbridos demonstraram menor quantidade de sintomas de HLB em campo.

plantas de tangerinas com sintomas de HLB

Os resultados da pesquisa foram extremamente positivos e lançam luz sobre os grandes problemas enfrentados na produção de tangerinas. Ao identificar as plantas que resistem ou “toleram” a presença desses microrganismos, é possível substituir as variedades comerciais atuais, o que reduziria os custos de produção e os riscos ambientais causados pela aplicação excessiva de agrotóxicos.

foto pesquisadora Marinês Bastianel

“Embora nem todas as tangerinas apresentem tolerância à bactéria que causa o HLB, a descoberta de plantas completamente resistentes à mancha marrom representa um passo significativo para produtores de citros de mesa.” Dra. Marinês Bastianel – Pesquisadora Centro de Citricultura Sylvio Moreira.

Além disso, aprofundar o estudo da genética dessas plantas possibilitará a identificação dos genes responsáveis por essa resistência, abrindo caminho para o desenvolvimento de novas variedades de tangerina mais resistentes e adaptadas ao ambiente brasileiro. Essas variedades poderiam fortalecer a citricultura nacional, proporcionando maior segurança e estabilidade na produção dessa fruta tão apreciada.

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A pesquisa é fundamental para sustentabilidade da produção agrícola

A busca por variedades resistentes que atendam à demanda do consumidor tem sido uma das principais preocupações na citricultura. A pesquisa conduzida pela Dra. Marinês e financiada pelo INCT traz avanços promissores para a produção de tangerinas no Brasil, enfatizando a importância dos investimentos na ciência agrícola e dos pesquisadores brasileiros.

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Os resultados obtidos são um exemplo notável do potencial das pesquisas para impulsionar a indústria de tangerinas, destacando a relevância de continuar apoiando e fomentando a ciência e inovação no país.

foto pesquisadora Marinês Bastianel

“Temos expectativas de que muito em breve haverá uma maior diversificação nos pomares de tangerinas e que atendam às exigências dos consumidores. Mostramos que existem tangerinas de excelente qualidade organolépticas e que possibilitam menor uso de princípios ativos contribuindo com a produção mais sustentável nos pomares.” Dra. Marinês Bastianel – Pesquisadora Centro de Citricultura Sylvio Moreira.

Fonte:

Bastianel, M., et al. Reaction of Mandarins to the Alternaria Brown Spot and Huanglongbing: Identification of Potential Varieties for These Diseases to Be Managed in the Field. Horticulturae, 2023. https://doi.org/10.3390/horticulturae9060641


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